19 de maio de 2021

Husky e a viagem de "Stardust Blues"

Quando ouvi pela primeira vez o som do Husky, apresentado pelo amigo Emmerson Nogueira no já longínquo ano de 2013, junto a uma remessa de novos artistas da cena indie, não houve amor à primeira vista. Talvez pelo volume de novidades, com bandas que causam mais impacto inicialmente, seja pela beleza das canções ou pela estranheza de uma sonoridade fora dos padrões do momento - caso do excelente "Babel", do Mumford and Sons -, presente no pacote aplicado pelo Emmerson. 

O álbum era o "Forever So", com uma capa esquisita e canções folk com melodias improváveis. Adicionei à minha playlist e, como de costume, iniciei o processo de decantação. Assim como um bom vinho, tenho o hábito de dar um tempo a novos álbuns. Geralmente, os que me causam mais estranheza são os que permanecem na minha vida. Foi o caso desse álbum. 

A maravilhosa "Tidal Wave", que mais tarde reconheci em pelo menos dois bons filmes, abre o disco com propriedade. É uma  bela amostra do que o Husky pode fazer de melhor. Despretensiosa, simples, sem firulas. A cara deles. Formada em Melbourne, na Austrália, a banda tem uma leveza genuína, confirmada nos álbuns seguintes ("Ruckers Hill" e "Punchbuzz").

Eis que em 2020, em plena pandemia, sou presenteado com o delicioso "Stardust Blues", novo álbum que conheci simultaneamente aos vídeos no canal da banda no YouTube. Fino! A primeira, "SYWD" , já pega na veia de quem acompanha o crescimento da banda, levando a estranheza melódica e rítmica a um novo nível. São 12 canções que fogem de qualquer tipo de clichê e mostram que, definitivamente, eles não estão muito preocupados com sucesso comercial. Indie em sua essência.



25 de janeiro de 2021

Rogério Ceni e Flamengo: histórico já indicava relação conflituosa

Ceni deixou o Fortaleza pela segunda vez para assumir o que considerava ser o melhor plantel do Brasil


O casamento que começou promissor, com juras de amor de ambos os lados e a expectativa de uma relação duradoura, pode estar próximo do fim. Sem conseguir emplacar uma sequência de boas atuações e com escalações e substituições aparentemente sem sentido, o treinador caiu em desgraça com a torcida e com boa parte da diretoria, tornando sua permanência até o fim do campeonato um fardo para todos os envolvidos.

Quando desembarcou no Rio de Janeiro para assumir o Flamengo, Rogério Ceni deixava pra trás (mais uma vez) a estabilidade no Fortaleza para assumir o atual campeão da América. Respaldado pelo bom desempenho na capital cearense e pelo rótulo de "técnico da nova geração", Ceni era a cara do que a diretoria rubro-negra buscava incessantemente desde a saída de Jorge Jesus: um técnico moderno, capaz de fazer o time da Gávea jogar um futebol vistoso e vencedor. Incríveis dois meses depois, viu ruir sua relação com a torcida e já mostra sinais de que o clima no vestiário já não é dos melhores. Apesar de surpreendente para muitos, uma análise da carreira do treinador já apontava que o sucesso na Gávea não seria tão simples assim.

Em sua curta carreira à beira do campo, Rogério conquistou quatro títulos. A Série B do Campeonato Brasileiro (2018), dois campeonatos cearenses (2019 e 2020) e a Copa do Nordeste (2019), todos com o Fortaleza. Até aí tudo bem. Mas foram as suas incursões em times com maior nível de exigência que já deixavam uma ideia do que aconteceria no Flamengo. Tanto no São Paulo, onde chegou como maior ídolo da história, como no Cruzeiro, teve sérios problemas de relacionamento com diretoria (São Paulo) e elenco (Cruzeiro). Mesmo que não tenha culpa direta nos dois casos, a dificuldade de relacionamento é uma característica que acompanha Ceni desde os bons tempos como jogador.

Sempre articulado e com inteligência acima da média entre os jogadores de futebol, Rogério teve uma carreira repleta de polêmicas e desafetos. Desde a conturbada proposta do Arsenal, que oficial ou fabricada rendeu ao jogador punição à época, até a briga na Seleção Brasileira por ter que raspar a cabeça, passando por atritos no vestiário com companheiros de time, até o famoso desentendimento com Ney Franco e tantos outros. Certo ou errado, Ceni nunca foi um cara fácil de lidar. Como jogador, quase sempre compensava dentro de campo, com belas defesas e muitos gols de falta. Fora dele, tem menos poder de decisão e acaba perdendo a confiança dos comandados, algo que fica cada vez mais evidente no Flamengo.
Dificuldade de relacionamento com medalhões parece ser o principal problema do técnico



Nesse contexto, parecia óbvio que o Ninho do Urubu não era o ambiente ideal para Ceni dar continuidade à sua promissora carreira como técnico. Principalmente um ano depois da maior campanha da história do rubro-negro e à sombra do trabalho impecável de Jorge Jesus - que já havia feito sua primeira vítima, o catalão Domènec Torrent. Em meio ao sucesso dos estrangeiros no Brasil, ainda hoje há quem não admita um técnico brasileiro no comando da equipe mais estruturada do Brasil. 

Pra piorar, por convicção ou vaidade, Rogério Ceni vem tomando sucessivas decisões questionáveis e pouco populares entre os rubro-negros. Não que o trabalho seja um deserto de ideias. Elas existem, mas não parecem boas. A insistência em Vitinho, a sua visão de incompatibilidade de Gabigol e Pedro (se dois centroavantes não podem jogar juntos, como explicar a entrada do jovem Rodrigo Muniz?) e o fraco desempenho coletivo, fazem a situação do técnico ficar cada vez mais delicada no Rio de Janeiro.

Em sua chegada, o técnico trouxe na bagagem bons números. No São Paulo, 34 partidas, com 14 vitórias, 11 empates e 9 derrotas. No Cruzeiro, seu pior momento, apenas 8 jogos, sendo 2 vitórias, 2 empates e 4 derrotas. No Fortaleza, somando as duas passagens, 153 jogos, sendo 81 vitórias, 33 empates, 39 derrotas e posto de maior técnico da história do clube. No Flamengo, sequer consegue superar o criticado Dome. Sob o comando do catalão, o rubro-negro teve 64% de aproveitamento. Com Ceni, apenas 48% de aproveitamento até o momento em 15 jogos, sendo 6 vitórias, 4 empates e 5 derrotas. Sua equipe marcou 23 gols e sofreu 19. Números pouco consistentes para o elenco que tem em mãos.

O discurso da diretoria é o de manutenção do trabalho ao menos até o fim da temporada. A sete pontos do Internacional, líder do campeonato, o Flamengo tem chances reais de título. Pode reduzir a diferença para quatro pontos já na próxima quinta, quando enfrenta um Grêmio que cogita escalar reservas. Depois enfrenta Sport (fora), Vasco (casa), Bragantino (fora), Corinthians (casa),  Inter (casa) e São Paulo (fora). Para ser campeão, terá que jogar muito mais do que vem jogando. Resta saber se Rogério Ceni saberá se reinventar, ou morrerá abraçado com suas ideias.  

22 de janeiro de 2021

O novo normal no futebol

Como a pandemia equilibrou  campeonatos e criou novos protagonistas

 
Estádios vazios, dj's no lugar de torcedores e muita falação vinda dos bancos de reservas














No início de 2020 os principais técnicos do futebol europeu defendiam uma revisão no calendário de competições. Não foram poucas as vezes que figuras como Klopp, Mourinho ou Guardiola demostraram descontentamento com a sequência desgastante de jogos oficiais e o amontoado de competições que minavam a capacidade física e, consequentemente, técnica dos craques que integram seus elencos. Mal sabiam o que aconteceria com o mundo. 

Passados 11 meses, os efeitos causados pela pandemia no bilionário mundo do futebol foram devastadores e obrigaram grandes potências a aceitarem um calendário esmagador em nome de dinheiro. Muito dinheiro. O resultado? O futebol piorou.

Ok, como entretenimento ainda temos o que comemorar. A Premier League está embolada como há anos não víamos. Na Espanha, os tropeços de Real e Barça abrem espaço para zebras históricas, como a recente eliminação da equipe de Zidane para o minúsculo Alcoyano, da terceira divisão, e a derrota de virada dos catalães para o Bilbao na Supercopa da Espanha. Na Itália a dupla de Milão voltou a ameaçar a longa hegemonia da Juve, dividindo a liderança no Calcio. Até na França, onde o bilionário PSG costumava nadar de braçada, o Lyon já ameaça tirar paz da equipe de Neymar. 

Abel Braga conduziu o Inter à liderança do campeonato, mas não fica para a próxima temporada


























No Brasil a disputa pelo título promete emoção até a última rodada, com personagens surpreendentes reivindicando protagonismo (quem diria que Abel Braga estaria na liderança do Brasileirão?), e os destaques de outrora sentindo o peso da sequência de jogos (que o digam os flamenguistas insatisfeitos com a queda de rendimento de Everton Ribeiro, até então candidato a craque do campeonato).

Europa e Brasil compartilham os efeitos do chamado "novo normal" no futebol. Na prática, os jogos foram nivelados para baixo, possibilitando que equipes medianas e até mesmo as mais limitadas possam disputar em condições de igualdade com aquelas que, em condições normais, venceriam com facilidade. Estádios vazios, dj's no lugar de torcedores, falta tempo pra treinar, para estudar os adversários, ensaiar jogadas e criar movimentações sincronizadas que costumavam definir os jogos de alto nível técnico. E, principalmente, falta descanso aos jogadores. Em suma, mais do que nunca podemos afirmar que o melhor não necessariamente irá ganhar. 



10 de julho de 2014

A volta dos que não foram?

Foto: Org Stringer/EFE
O maior vexame da história da seleção mais vitoriosa de todos os tempos, a brasileira, pode não representar qualquer mudança, como era esperado. Ao menos no comando. Se o mundo inteiro dá como sepultado o futebol pentacampeão, a CBF faz vista grossa e já ensaia a manutenção de Luiz Felipe Scolari e sua comissão técnica. A informação é do comentarista Paulo Vinícius Coelho, que fez o comunicado durante o Bate-Bola 2ª edição desta quinta-feira, 10. 

Se for confirmada, a não demissão de Felipão e sua comissão técnica apenas ratificará a inércia e o descaso com o que um dia já foi nosso maior patrimônio: a Seleção Brasileira. É impossível cogitar a continuidade de um trabalho que culminou na vergonhosa goleada alemã, que só não fez mais porque "tirou o pé", como afirmaram os jogadores para quem quisesse ouvir.
Jogadores observam a bola no fundo da rede. Cena repetida sete vezes. (Foto: Ceará Agora)
Felipão e Parreira já estão na história do futebol brasileiro, seja para o bem ou para o mal. Conquistaram uma Copa cada (2002 e 1994, respectivamente) e fracassaram em outra oportunidade (2014 e 2006, respectivamente). Que lidem com a glória e o escárnio que fizeram por merecer. 

Confesso que quando li os nomes cogitados para assumir o desafio de reformular nossa seleção não me animei. Em um momento onde todos clamam por renovação, Muricy Ramalho, Tite e, pasmem, Vanderlei Luxemburgo, vão em direção completamente oposta. O primeiro já disse em entrevistas que pretende se aposentar em breve. Tite, com toda a grife adquirida com o título mundial do Corinthians, é um dos maiores retranqueiros do futebol brasileiro. Luxemburgo... bem, há quantos anos não faz um bom trabalho? Cogitaram também Alexandre Gallo, que trabalha com as seleções de base, mas, francamente, o que ele fez para merecer o cargo?

O fracasso do "Projeto Hexa", se é que podemos acreditar que algo nessa preparação foi planejado, expôs o que muitos insistem em rejeitar: nossos técnicos estão muito abaixo dos estrangeiros. Não falo somente dos europeus. Quantos argentinos, chilenos e até colombianos treinam equipes e seleções estrangeiras? A final da Champions League teve um técnico argentino (Diego Simeone), os dois primeiros colocados na Liga Espanhola foram comandados por argentinos (mais uma vez Simeone com o surpreendente Atlético de Madri e Tatá Martino, com o Barcelona), o campeão inglês é comandado pelo chileno Manuel Pellegrini, José Pekerman comandou a seleção colombiana com bravura, e o que dizer de Jorge Luis Pinto, o colombiano que fez a Costa Rica existir no mapa do futebol mundial?

O ponto-chave desta discussão é um só: chegou a hora de apostarmos em um técnico estrangeiro. Ora, se o que nos falta é padrão tático, controle emocional e planejamento, por que não importar esses atributos? Já imaginou nosso talento somado ao conhecimento tático de um José Mourinho?

Mourinho com William e Oscar no Chelsea. (Foto: Sky Sports)
Idioma não seria problema. O português marrento é um grande conhecedor do nosso futebol, declarou torcida para nossa seleção na Copa e já trabalhou com muitos jogadores dessa geração. Isso pode fazer a diferença. Não pensem que o time será todo modificado, pois a espinha dorsal da Copa de 2018 está aí. David Luiz, Paulinho, Oscar e Neymar estarão lá. Some a isso alguns talentos esquecidos pela atual comissão, como o ótimo Philippe Coutinho (Liverpool) ou o rápido Lucas (PSG), e temos aí o desafio do nosso próximo comandante: encontrar goleiro, laterais e, principalmente, um centroavante.

"Mas ele é um grande retranqueiro", dirão os críticos.  Mas é um vencedor. Conquistou títulos por todos os clubes pelos quais passou. Muda o esquema de acordo com o adversário, ao invés de "já saber as substituições que serão feitas no jogo de amanhã", como disse Felipão durante a Copa. Se já sabe o que fazer na véspera da partida, onde está a leitura do jogo? Pra que serve o técnico?

Eu apostaria no Mourinho, mas outras opções devem ser consideradas. Guardiola é constantemente cogitado, apesar de que o fracasso da seleção espanhola na Copa evidenciou o esgotamento do tick-tacka. E você, em quem depositaria a confiança para trazer de volta o melhor do futebol brasileiro?



14 de maio de 2013

As escolhas de Felipão



Ainda durante a convocação do técnico Luiz Felipe Scolari, nas redes sociais já pipocavam críticas às escolhas do comandante. Das mais óbvias, contestando a ausência de Ronaldinho e, em menor escala, de Kaká, até as pouco prováveis, como as ausências de Ramires e Pato, ou a presença de Luiz Gustavo. Preferências à parte, o que Felipão evidenciou é que a Copa das Confederações será o grande laboratório de seu trabalho e, por este motivo, a competição perfeita para fazer apostas até certo ponto ousadas. "Fazer experiências contra equipe com o peso de Espanha, Itália ou Uruguai?", podem questionar os críticos. Para uma Seleção que não disputa Eliminatórias e vê a Copa do Mundo bater à porta, é a única possibilidade de construirmos um esboço de time para a competição principal, em 2014.


Primeiro é preciso afirmar que Scolari não será demitido seja qual for o resultado da competição. Salve uma eliminação na primeira fase, o treinador não convive com uma sombra capaz de fazê-lo balançar no cargo. Considerando o pragmatismo da CBF, sua maior ameaça está no mesmo barco: Parreira. E não me venham com esse papo de Tite, pois estamos falando de uma confederação que faz a dança das cadeiras há décadas! Se Zagallo já não tem condições físicas de comandar a Seleção e Parreira é o coordenador do projeto, não dá para imaginar uma atitude ousada de Marin e Del Nero, sucessores confessos da escola Ricardo Teixeira.


Thiago Silva será a voz de Felipão dentro do campo
Considerando esses fatores, temos que louvar as escolhas do Felipão. Elas apontam para algo que Mano tentou e que todo o povo brasileiro sempre pediu: renovação. Ronaldinho e Kaká não precisam de testes ou experiência com a camisa da Seleção, algo que fará muito bem a jovens talentos como Oscar, Lucas, Fernando, e até mesmo jogadores com certa idade mas sem relação com a Seleção, casos de Hernanes e Jadson. A presença de Bernard é uma tacada certeira que pode, inclusive, mudar a escalação titular. Lucas, que não teve a oportunidade de jogar com o técnico é outro que vai mexer com o time, deixando nossa Seleção com uma velocidade ausente há tempos. Se algum dos ausentes realmente poderia integrar o grupo este jogador é Ramires. Rápido, técnico, bom marcador. Pelo que se lê na imprensa, perdeu a vaga por um vacilo em sua última convocação, quando se apresentou com médicos do Chelsea alegando estar contundido. Erro fatal para quem conhece Felipão.


Neymar e Lucas são esperança de muita movimentação ofensiva
Também não sou fã do Hulk, mas ele justificou sua presença na lista todas as vezes que foi chamado. É trombador e pode ser útil em situações emergenciais. Entre Damião e Pato, venceu a disputa quem é titular absoluto no seu clube, mesmo com forte concorrência. Se Pato tem esquentado o banco para Emerson, Guerrero e até Romarinho, Damião jamais foi reserva mesmo disputando com Forlán, Rafael Moura e outros bons atacantes colorados. Para os críticos da convocação de Júlio César, acho a presença dele importante para um grupo jovem e um time em formação. Porém, considero Jefferson um dos mais injustiçados jogadores da atual Seleção. Além de ser o goleiro com maior número de convocações após a Copa de 2010, mantem há três anos uma regularidade impressionante para quem atua em uma equipe com tantas oscilações como o Botafogo.
Fred é o homem-gol da Seleção de Scolari
Por fim, deixo duas escalações para a Copa: a minha e a que acredito que Felipão vai montar.

Seleção de Felipão:
4-4-2
Julio Cesar, Daniel Alves, Thiago Silva, Dante e Marcelo; David Luiz, Paulinho, Lucas e Oscar; Neymar e Fred.

Seleção Ideal:
4-2-3-1
Jefferson, Daniel Alves, Thiago Silva, David Luiz e Marcelo; Paulinho, Hernanes, Lucas, Oscar e Neymar; Fred.

E pra você, qual a melhor formação para a Seleção?












8 de maio de 2013

Campeão incontestável

Jefferson ergue a taça de Campeão Carioca 2013

O Botafogo venceu o Fluminense por 1 a 0 no último domingo, faturou a Taça Rio e, de quebra, levou o Campeonato Carioca sem a necessidade dos dois jogos finais. Nenhuma novidade se levarmos em consideração que o próprio alvinegro conseguiu tal feito em 2010, ano da famosa cavadinha de Loco Abreu. O que chama a atenção são as reclamações dos adversários, principalmente vascaínos e rubro-negros, que tentam a todo custo diminuir a conquista da equipe comandada por Oswaldo Oliveira. Alguns fatos devem ser considerados:

- Pergunte a um flamenguista qual o gol mais marcante em sua vida. Noves fora os torcedores da Era Zico, a maioria esmagadora responderá o gol de Petkovic, contra o Vasco, já nos acréscimos.

- Pergunte a um tricolor qual o gol que não lhe sai da memória. A resposta, não importa a idade do torcedor, será o gol de barriga de Renato, no fim do Fla-Flu de 95.

- Faça o mesmo a um vascaíno e a resposta, talvez com um pouco mais de esforço, será do gol de Cocada, em 88.

Em todos os casos, e inclua nessa lista a resposta do torcedor botafoguense que, em alguns casos citaria o gol de Maurício em 89, em outros a cavadinha de Loco Abreu, os gols aconteceram no campeonato estadual. Ora, se estamos falando de um campeonato sem importância, por que esses lances povoam a memória e o coração de tantos torcedores? Por que fazem parte da história dos quatro grande clubes e, sem dúvidas, do futebol brasileiro?

É óbvio que o Campeonato Carioca deste ano viveu grandes turbulências. Se o futebol carioca já sofria com a falta do Maracanã, o repentino fechamento do Engenhão foi a pá de cal na possibilidade do torcedor que mora no Rio de Janeiro assistir aos jogos do seu time sem o deslocamento para Volta Redonda ou Macaé. Mas não me venham com essa conversa fiada de que o "nível técnico é baixo" ou "os times pequenos são horríveis", pois essa parte não diz respeito somente à edição deste ano. E mais: só um carioca pode usar a desculpa da Libertadores, pois Vasco e Flamengo jogavam todas as suas fichas no estadual! Fracassaram. Sem desculpas ou falsas justificativas.

Em campo, tirando o bom começo rubro-negro, que chegou a despontar como possível postulante ao título, o que se viu foi o Botafogo sobrando. E, se os times pequenos são fracos, o que dizer do Flamengo derrotado para o Resende. Ou do Vasco, que acumulou quatro derrotas na Taça Rio?

O Fluminense sofreu com o martírio de conciliar duas competições importantes, viagens desgastantes e um elenco cujos principais nomes atravessam péssimos momentos físicos. Em determinado momento do campeonato, o tricolor chegou a ter Deco, Fred e Thiago Neves entregues ao departamento médico. Aliás, pouco se fala na imprensa sobre o envelhecimento do elenco tricolor. Talvez uma eliminação contra o Emelec abra as portas das Laranjeiras para que os questionamentos apareçam e criem um clima desfavorável na equipe de Abel.
Atuações de Seedorf ganharam repercussão mundial

Em campo, o Botafogo não quis saber dos problemas de seus rivais. Teve 80% de aproveitamento, alcançando 11 vitórias, 3 empates e somente uma derrota nos 15 jogos disputados. De quebra teve o melhor ataque, com 37 gols, e a defesa menos vazada, com 10 gols sofridos. Isso sem falar das atuações individuais. Seedorf, Lodeiro e Fellype Gabriel jogaram tanta bola que são favoritos ao prêmio de "Craque do Campeonato". Jefferson fez um campeonato impecável e, para muitos, carimbou o passaporte para a Copa das Confederações com a Seleção Brasileira. Aliás, Júlio César já teve sua chance e deixou escapar, como a bola alçada por Sneijder. Cavalieri, que após sair do Palmeiras perambulou sem sucesso na Europa, foi reserva de Berna até se firmar no Fluminense, não está no mesmo nível de Jefferson.

No fim, a conclusão que fica é que não importa se o Campeonato Carioca é desorganizado ou desvalorizado. Sempre será assim para quem perde. Quando se ganha, a torcida toma as ruas, faz piada com os rivais e bate no peito para dizer que seu time é o melhor do estado. E, no caso do Botafogo de Seedorf, essa afirmação é indiscutível...

Perseguido pela torcida, Rafael Marques fez o gol do título





2 de abril de 2012

A invencibilidade que não convence

Loco Abreu comemora gol: uruguaio vive pior início de temporada pelo Botafogo
O Botafogo empatou com o Fluminense e conseguiu manter a maior invencibilidade entre os clubes da Série A até aqui, ao lado do Atlético Mineiro. Já se vão 16 jogos desde a última derrota do alvinegro que, mesmo assim, não consegue empolgar sua torcida. A desconfiança tem motivo: após encantar o país durante quase todo o Brasileirão do ano passado, a equipe teve uma grande queda de rendimento que culminou com a perda da vaga na Libertadores. O desempenho pífio foi a senha para a demissão de Caio Júnior e a contratação do experiente e vitorioso Oswaldo de Oliveira.

Desde que assumiu a equipe, o técnico fez questão de enaltecer o trabalho de seu antecessor mantendo, inclusive, o mesmo esquema tático (4-2-3-1). Com base e esquema mantidos, somados à chegada de poucos reforços (entre eles os bons Andrezinho e Fellype Gabriel), Oswaldo deixou claro para a torcida que o time que decepcionou na reta final do ano passado teria uma segunda chance. Eis o problema.
Andrezinho chegou e logo assumiu a camisa 10
Irritada com mais um fracasso, a torcida não consegue aceitar a presença de alguns jogadores na equipe titular. Mesmo com a saída de Alessandro, muito vaiado em todos os jogos do ano passado, as presenças do displicente Fábio Ferreira e do atrapalhado Márcio Azevedo incomodam os torcedores, que se recusam a comemorar a invencibilidade. E têm lá sua razão.
Menos badalado que Andrezinho, Fellype Gabriel fez gols importantes e conquistou a torcida
Dos 16 jogos sem saber o que é derrota, o Botafogo empatou nada menos que oito! Isso inclui dois empates com o Treze da Paraíba e nos clássicos com Fla e Flu. A história quase sempre é a mesma: a equipe começa bem, controla o jogo, abre o placar e... cede a igualdade. Foi assim na Taça Guanabara com o Flamengo e ontem, pela Taça Rio, contra o tricolor. Dessa forma, o Botafogo consegue a proeza de ter que lidar com a desconfiança de sua torcida mesmo estando tão distante das derrotas.

A volta de Jobson, que aos poucos readquire ritmo, e a busca no mercado por um zagueiro e dois laterais pode trazer a torcida novamente para o lado do time. Porém, uma eventual queda na Copa do Brasil pode tornar o ano do Glorioso um verdadeiro calvário...